terça-feira, 29 de janeiro de 2019

Tour pela Espanha 2018/2019

Segunda Jornada
Valência, Villa Real

Nossa jornada turística e cultural nos levou de Albacete em Castilla-La Mancha à Comunidade autônoma de Valência com o objetivo primário de visitar o Museu da Cidade Casa de Polo na pequena cidade de Villa-real ou Villarreal aonde há um espaço dedicado ao violonista espanhol Francisco Tárrega e também a mais três artistas locais mas de fama internacional: os pintores José Gumbáu (1907-1989) e Gimeno Barón (1912-1978) e o escultor José Ortlels (1887-1961).
Francisco de Assis Tárrega Eixea nasceu em Vila-real em 21/11/1852 e faleceu em Valência em 15/10/1909. Em 20/12/1915 seus restos mortais foram trasladados de Barcelona ao Cemitério de Castellon distante cerca de dez quilometros de Vila-real. 
Tárrega foi um dos principais mestres do violão do período denominado romântico e participou efetivamente na transição do modelo de violão romântico que fora utilizado por nomes como Napoleón Coste, Mauro Giuliani, Dionisio Aguado e Fernando Sor, artistas da geração anterior e datados entre o final do século XVIII e meados do século XIX, classificados como clássico-românticos, para o violão como conhecemos hoje. Isto no que diz respeito ao tamanho, design e engenharia de construção e também à estética musical. Deixou uma legião de seguidores e esta legião cirou o que veio a ser conhecido como Método de Tárrega ou Escola de Tárrega. Sua obra faz parte do repertório de todo violonista, seja concertista ou estudante.
No centro de informação turística, ao lado da Basílica de São Pascual Baylón, há uma placa que assinala aquela casa como o local de nascimento de Tárrega. Sua mãe trabalhava junto aos sacerdotes desta basílica na época em que Tárrega nasceu.
Poucos dias antes de nossa visita havia acontecido o Mês Tárrega (21/11 a 15/12/2018) com inúmeras atrações ligadas ao grande mestre do violão.
O site do museu pode ser acessado aqui: Museu de la ciudad Casa de Polo. No Museu dá para adquirir algum material sobre Tárrega. De lá trouxemos o livro Memória gráfica de Tárrega de Onofre Flores Sacristán e Salustiano López Orba repleto de imagens e recordações gráficas da vida do compositor.
Seguem algumas fotos da visita.












Valência foi uma das melhores surpresas da viagem. Cidade grande e capital de região autônoma que leva o mesmo nome tem uma região central fascinante e extremamente bem preservada. Fácil de se locomover e seguro à qualquer hora. Tem diversão para todos e, ao menos nesta época e durante a noite, ruas sem carros aonde os pedestres se divertem tranquilamente. Bares e restaurantes à vontade e a tradicional horchata, bebida feita à base de chufa e não ácoolica e que vem acompanhada de fatós (biscoito em forma de bastão), completa a festa.
Valência tem a tradição de ensino de canto bastante forte tendo sido o conservatório local criado para suprir esta demanda. A comunidade valenciana também deu à luz a inúmeros artistas da música clássica, sejam violonistas ou não. Além de Tárrega temos Daniel Fortea e Pascual Roch, para citar apenas dois. Oscar Esplá e Vicente Ascencio que também deixaram obrtas para violão ali nasceram. Há uma imprensa oficial que publica obras de artistas, pesquisadores, cientistas e afins e que tem uma loja no centro. Ali compramos La Guitarra Clásica en La Comunidad Valenciana - Siglo XX de José Lázaro Villena e Matheo Flecha - Los Villancicos de Maricarmen Gómez y John  Griffiths. 
Flecha, importante compositor do Rensacimento, nasceu próximo ao que hoje é fronteira entre França e Espanha e foi mestre de capela na Catedral de Valência entre 1526 e 1530.
Como estávamos em época de festas ouvia-se apresentações musicais em vários lugares ao mesmo tempo como, por exemplo, dentro de uma basílica e na praça em frente simultaneamente. Várias formações corais e de todas as idades podiam ser encontrados ao longo do dia e da noite.

Horchata, fartós, chocolate e buñuelos. As sementes são as chufas de onde se extrai o líquido (leite), para a preparação da horchata.






Algumas imagens de Valência

















segunda-feira, 28 de janeiro de 2019

Tour cultural pela Espanha 2018/2019 - Guitar, Music and Poetry

Tour pela Espanha 2018/2019

Em 15 de Dezembro de 2018 desembarcamos em Madri, minha esposa e eu, para um giro pela Andalucía, principal foco da viagem, mas também visitar locais, museus, casas, acervos e afins relacionados ao violão e ao poeta Federico Garcia Lorca. Desta forma estavam previstas passagens pelo Museu de la Ciudad Villa Real (Valência), aonde há um espaço reservado ao violonista Francisco Tárrega, Museu de la Guitarra na cidade de Almería, com espaço dedicado a Antônio Torres, cidade de Vera, por motivos familiares e por ser a cidade natal de Torres, Linares aonde há a casa museu Andrés Segóvia, Casa de la Guitarra em Sevilla e Casa de Manuel de Falla em Granada. Fora outras coisas que poderiam surgir como espetáculos de música local (flamenco ou não) e demais surpresas pelos caminhos, ainda havia as visitas poéticas às casas de Federico Garcia Lorca em Fuente Vaqueros, Villarubio e ao museu a ele dedicado em Granada.
Em meio à turbulência positiva dos encantos turísticos ainda programamos aulas no Conservatorio Superior de Música Castilla La-Mancha, em Albacete e no Conservatorio Manuel Quiroga na cidade de Pontevedra (Galícia) no norte da Espanha sendo o concerto em Albacete num local bastante exótico chamado Casa Vieja e o concerto em Pontevedra exclusivo para os alunos do conservatório.
Como a viagem teria longa duração, quarenta dias aproximadamente, resolvemos não levar os violões optando por emprestar dos amigos Pedro Jesus Gómez Lorente e Miguel Angel Valle Gutierrez, professores em Albacete e Pontevedra respectivamente e de um dos alunos do Pedro.
Na soma final, foram 27 cidades visitadas, sendo duas em Portugal, objetivos atingidos e algumas surpresas pelo caminho.
Neste relato focarei apenas nos aspectos culturais: roteiro guitarrístico e poético.


Primeira Jornada
Castilla La-Mancha: Albacete

Em Albacete oferecemos aulas aos alunos do Conservatorio Superior de Música Castilla-La Mancha aonde nosso amigo Pedro Jesus Gómez Lorente dedica-se ao ensino de cordas dedilhadas, violão e instrumentos antigos como guitarra barroca, vihuela, etc. e divide as atividades com o professor  Juan Carlos López Segura.
Os alunos são do curso superior e o repertório abrangia obras de Brouwer, Barrios, Villa-Lobos e Gnattali. As aulas foram no sistema de masterclass. Os alunos apresentaram, em geral, bom domínio msucial das obras embora a maioria estivesse em contato com as peças há muito pouco tempo. A atenção e o respeito demonstrado chamaram bastante nossa atenção bem como a estrutura geral da escola que disponibiliza excelentes instalações. Nosso amigo e seu colega também nos deram respostas bastante positivas quando a nosso trabalho. De nossa parte a satisfação foi completa.






Ainda em Albacete tivemos a oportunidade de tocar em um local que é uma espécie de clube cultural chamado Casa Vieja. É toda decorada com objetos e móveis antigos sem nenhum padrão estilístico. Um local inusitado. Tocamos um repertório brasileiro que incluia a Suíte Retratos de Gnattali, Nazareth, Carlos Gomes, Guarnieri e Marlos Nobre. De bis Dilermando Reis.










Um dos planejamentos que não deram certo pela distância e logística foi a visita à lutheria de Vicente Carrillo, importante contrutor de guitarras espanhol cuja família produz instrumentos desde o século XVIII. Ele está estabelecido em Casasimarro na província de Cuenca. A família tem uma história linda que pode ser acessado no link do próprio luthier Vicente Carrillo.
Por casualidade ele tem uma loja em Albacete aonde pudemos experimentar alguns de seus ótimos instumentos e admirar algumas das fotos da família. A senhora que aparece abaixo construindo violões é Gabriela Casas Fornier (1928-2005), mãe de Vicente e que tomou os negócios da família após a morte prematura de seu marido Vicente Carrillo Cantos em 1962. Na loja fomos atendidos por sua neta que já faz parte dos negócios familiares.






A região de Castilla La-Mancha é famosa por ser a terra de um dos maiores personagens da história da literatura mundial, aliás, um não, dois personagens: Don Quijote de La Manhca e seu fiel escudeiro Sancho Pança. É uma região de clima árido e longas planícies desertas. Muito semelhante ao semiárido brasileiro ou mesmo o sertão mais profundo. A personalidade séria e introspectiva é parte constante da descrição do tipo local assim como é a do nosso nordestino: antes de tudo um forte.
Mas, apesar da aridez, guarda tesouros impressionantes de eras mais remotas como os tempos em que os mouros habitaram o local. Há vestígios desta cultura e da cultura romana espalhados pela região como em Chinchila, povoado perto de Albacete, ou Alcalá del Júcar e Joruqera também próximas à cidade de Albacete. Seguem três fotos destes locias.





Albacete é uma cidade bastante estruturada e organizada na qual tudo pode ser feito a pé, ou quase tudo. Segurança total, ótimos restaurantes e bares e está a meio caminho entre Madrid e Valência. O trem de alta velocidade faz o percurso em 1h30 (Madrid-Albacete).